FOTOGRAFIA da SEMANA
>> terça-feira, 29 de maio de 2012 –
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Sintra
FOTOGRAFIA da SEMANA 28 MAIO 2012
Qualquer um
de nós gostaria de voltar as costas ao mundo, por mais ou menos tempo, e
iniciar o percurso a este lugar se sentir.
Sintra acolhe
este sítio esotérico, idealizado no sonho romântico, mítico e mágico de
Carvalho Monteiro e do arquiteto italiano Luigi Manini que o consubstanciou
para, hoje, nossos sentidos se apaziguarem.
Não sabemos
se esta menina que sozinha ali caminha, pensará nos estilos arquitetónicos do
Palácio que se entrecruzam do gótico ao manuelino ou renascença.
Não sabemos
se estará interessada na história trágico-marítima que esta Quinta de regalo
(Regaleira) pretende evocar para enaltecer a giesta dos andantes marítimos; não
sabemos se estará interessada nas simbologias míticas, místicas e iniciáticas
que estão omnipresentes neste espaço sacralizado, diria até profanamente
sacralizado.
Mas se
quisermos entrar na Quinta e neste ‘Palácio dos Milhões’, através da
fotografia, estejamos atentos. Podemos, de repente, entrar num regresso ao
passado e encontrar algum Templário conversando com um Rosa Cruz a relembrarem
outros combates. Podemos escutar fórmulas de juramentos secretos de alguma
reunião de Lojas Maçónicas. Podemos ser apanhados por seres invisíveis que nos
vendem os olhos e nos façam subir das trevas para a luz, na espiralada
escadaria do poço iniciático.
Devíamos
avisar esta menina já nascida que, nesta Quinta e no Palácio que a olha, poderá
voltar a nascer. Se subir, desde qualquer uma das oito pontas da estrela que
embeleza o fundo do poço, não estará apenas a emergir do ventre da Mãe Terra,
não estará apenas a sair do Útero Primordial e a deixar a proteção amniótica.
Poderá também ter de perceber o percurso inverso, o caminho heraclitiano,
sempre o mesmo, mas diferente no subir e no descer! Aqui, ao subir, deixará a
segurança uterina de onde provém a vida, mas também poderá descer, entrar de
novo no ventre da Mãe Terra, a Sepultura onde tudo e ela têm de regressar.
Também está
lá a alquimia de qualquer rei Midas, o equilíbrio precário que os visionários
sonham, procuram, encontram, transformam e perdem para poderem sempre
transgredir!
Então,
visitemos e sonhemos transgredir. Talvez assim possamos estar dentro e fora de
nós e das estrelas que o universo contém. E, se for noite, adormeceremos, tarde
ou cedo, mesmo que a alma não nos fique adormecida.
Foto: Osvaldo Castanheira
Texto: Maria dos Anjos Fernandes